Clube Formador de FPX (Federação Portuguesa de Xadrez) - Grau 2

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03/07/2009

Nascemos génios?


Quarenta e poucos anos atrás, um jovem psicólogo húngaro, Laszlo Polgar, tendo estudado a biografia de centenas de pródigos e intelectuais, julgara ter descoberto a fórmula do sucesso: intensa especialização precoce. Estava tão seguro da tese que inclusive escrevera um livro chamado “Criando gênios!”.
O projeto era aplicar a teoria em seus próprios filhos e assim, teve início um dos experimentos pedagógicos mais interessantes do século XX, e colocou novos elementos na antiga discussão: natureza versus criação, ou seja, se a aptidão humana (ou habilidade ou talento ou genialidade) é inata ou adquirida.
A primeira filha, Susan, nasceu em abril de 1969. Os Polgar decidiram que o xadrez seria o instrumento ideal para testar a sua teoria, pois é uma arte e uma ciência ao mesmo tempo e, além disso, permite medir os resultados de uma forma objetiva. Aos 4 anos Susan começou a aprender xadrez.
Seis meses depois, Laszlo levou Susan ao Clube de Xadrez de Budapeste. Em um ambiente enfumaçado, cheio de homens velhos e adultos, uma garotinha de 4 anos e meio chamou a atenção geral. Mais ainda quando Laszlo pediu a um deles, sentado sozinho numa mesa de jogo, que concedesse um jogo à garotinha, que mal ultrapassava a altura da mesa de jogo.O homem riu quando viu a desafiante. Condescendente, anuiu. E se arrependeu. Após poucos lances, Susan estendeu a mãozinha mínima para o cumprimento protocolar de vitória.
Em 1974, nasceu a irmã Sophia, e em 1976, a caçula Judit. Ambas também iniciadas no xadrez muito antes de saber ler ou escrever.Em 1985, as três irmãs estavam presentes ao Aberto de Xadrez de Nova York. Enquanto Susan, 16 anos, e Sophia, 11 anos, destroçavam filas de oponentes masculinos, a caçula Judit, 9 anos, se divertia vencendo 5 oponentes numa simultânea, jogando com os olhos vendados.Em 1991, aos 21, Susan se tornou a primeira mulher na história a ganhar o título de grande mestre. Judit a seguiu, ganhando o mesmo título no mesmo ano, aos 15 anos, e alguns meses menos do que Bobby Fisher, quando este ganhou o mesmo título.Sophia, embora considerada pelas irmãs como a mais talentosa, não chegou ao título de grande mestre por desinteresse e menor empenho no xadrez que as irmãs.
Para Laszlo Polgar, a sua tese estava provada. Grandes mestres em xadrez foram criadas, através de precoce e intenso treinamento. Talento inato é fator irrelevante.
Mas, para muitos psicólogos e neurocientistas, pelo histórico de realizações, não há como negar a habilidade inata nas 3 irmãs. Mas, nesse caso, seria mera coincidência o fato de 3 pessoas, de extraordinária habilidade inata em xadrez, nascerem numa mesma família, cujo progenitor, ironicamente, negava exatamente a existência ou a relevância de habilidades inatas. Essa probabilidade é muito menor do que ganhar na Mega Sena.
Para convencer os seus detratores, Laszlo bolou um projeto mais audacioso ainda: ele adotaria 3 meninos de países emergentes, os criaria no mesmo esquema adotado para as filhas, e ele os tornaria grandes mestres de xadrez. Seria uma tira-teimas espetacular. Mas, aí a condição humana falou mais alto. Klara vetou a idéia. Afinal, a vida não é só xadrez, e não se pode ser a mesma mãe, trinta anos depois.Enquanto pesquisas e discussões continuam, o que nós podemos tirar de conclusão?Não restam dúvidas de que a dedicação intensa e precoce produz grandes habilidades. Quem sabe, pode até tornar as habilidades inatas irrelevantes.
Em tempo: Klara, esposa, professora de línguas, também ensinou bem as filhas: todas são poliglotas. Susan fala fluentemente 7 línguas.
Fonte: http://www.tribodeideias.com.br/blog/?tag=xadrez e http://www.casadoxadrez.com.br/

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